“Não há medicina e não há planos de saúde sem
médicos.“
Sérgio dos Passos Ramos,
médico.
Sinais
dos tempos: 15 de junho de 2009, Obama, comparece à Associação Médica
Americana para falar de Planos de Saúde. No mesmo dia, o “New England
Journal of Medicine”, publica umaOnline
First, espécie de primeira edição antecipada, para discutir o papel do
médico na reforma do sistema de saúde nos Estados Unidos. O que acontece no
país mais rico do mundo? Simples. O sistema de saúdeMedicareque
abriga mais de 40 milhões de pessoas com mais de 65 anos está indo à
falência. Como nos EUA não há um SUS, isto significa que mais de 40 milhões
de americanos ficarão sem plano de saúde nos próximos anos. Junte-se a
estes, 46 milhões de americanos sem nenhuma cobertura médica e 25 milhões
com coberturas inadequadas. Uma das frases mais aplaudidas de Obama no
discurso de 15 de junho foi exatamente esta. A América não pode abandonar
mais de 40 milhões de americanos.
O
pior é que esta falência está sendo anunciada há anos e nada se fez,
seriamente, para evitá-la. Os baixos honorários pagos sem reajuste por
muitos anos, além dos processos pormal
practiceafastaram os médicos
da atividade médica. Alia-se a isto o alto custo da medicina diagnóstica e
curativa, o alto custo dos medicamentos que nos EUA são pagos pelos planos
de saúde mesmo em regime ambulatorial e a má qualidade da medicina prestada
por planos de saúde. Muito parecido com o Brasil, não é mesmo? Uma das
assertivas do New England é esta: Não há reforma da assistência médica
americana sem uma reforma nos processos jurídicos de responsabilidade
médica.
Vejamos
a situação na assistência médica por planos de saúde no Brasil. Já perguntei
neste espaço se os advogados que atendemos por 30 reais, via Policlin e
Unimed, nos atendem pelo mesmo preço... Uma conversa com o Dr. Aníbal,
advogado da APM, genérica, sem nomes, protegidos pelo sigilo da sua
profissão, mostra uma dura realidade: O pior inimigo do médico é o cliente
insatisfeito. Indenizações de mais de um milhão de reais estão sendo
solicitadas de médicos que receberam menos de 200 reais por uma cirurgia.
Pergunto, vale a pena operar? Os baixos salários pagos pelo governo e os
honorários médicos dos planos de saúde congelados há mais de oito anos
também estão afastando os médicos da profissão. Estive em São Paulo no Fórum
Nacional de Defesa do SUS. Ouvi o Ministro da Saúde do Brasil dizer: Não
temos mais pediatras no Brasil! De quem é a culpa? Sobram vagas de
residência médica em pediatria e cirurgia cardíaca. Não há vagas para
dermatologia e cirurgia plástica. Por quê? Porque estética e plástica não
são cobertos por planos de saúde! Não tem seus honorários ridiculamente
minimizados por estes “messias” que administram os planos à custa dos
médicos! Um hospital é caro? Medicina diagnóstica é cara? Medicamentos são
caros? Congelemos os médicos, estes são cordeiros, não reclamam.
O
que pretendo com este artigo? Mostrar que estamos caminhando para a mesma
falência previsível que agora atinge os EUA. Já antevejo o dia em que o
presidente do Brasil estará na sede da AMB pedindo compreensão aos médicos.
Estes mesmos médicos que, no presente, estão sendo abandonados, congelados,
humilhados, processados, desprezados. Por planos de saúde e governos.
Mas
repito o que tenho escrito sempre: Não há medicina e não há planos de saúde
sem médicos. Hoje, por mérito, a citação é minha.
Sérgio dos Passos Ramos
é vice-presidente da APM São José dos Campos
Associação Paulista de Medicina - São José dos Campos
Avenida São José, 1187 - Cep:12209-621 - São José dos Campos - SP - Tel 12
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