Vivemos uma situação
insustentável na saúde suplementar. Passada uma década da regulamentação
do setor e oito anos da CPI dos Planos de Saúde, o direito dos usuários
à assistência de qualidade continua em risco por questões puramente
econômicas.
Os números são absurdos.
Mais de 45 milhões de pessoas pagam todo mês valores corrigidos
anualmente, muitas vezes por índices superiores à inflação. Certamente,
é um gasto que pesa no bolso da maioria desses cidadãos, já submetidos a
uma das mais altas cargas tributárias do mundo.
Em troca, quando estão
mais fragilizados, em busca de diagnósticos e tratamentos dos quais
dependem a sua vida, encontram inúmeras barreiras para o atendimento:
demora, negativa de autorização, informações equivocadas, desconfiança e
desrespeito.
Do outro lado, estão os
médicos. Mais de 160 mil profissionais de medicina prestam serviços a
operadoras e seguradoras de saúde no país. Sem qualquer garantia legal,
até o momento, de reajustes anuais dos honorários, estão excessivamente
explorados, recebendo valores defasados há mais de 15 anos. Aqueles que
colocam na calculadora as receitas advindas de consultas e procedimentos
e as despesas de manutenção de seus consultórios, invariavelmente
descobrem que o saldo é negativo, o que ganham é insuficiente para
manter a estrutura; e pensam em parar.
No entanto, o Juramento
de Hipócrates, os princípios éticos, a boa relação médico-paciente e a
prática médica de qualidade o convencem a continuar lutando, pois este é
o compromisso da classe médica.
Além do sufoco
financeiro – que leva os médicos a cargas de trabalho cada vez mais
desgastantes, dificultando a atualização médica e ampliando também o
risco de falhas – os profissionais são obrigados a enfrentar
interferências absurdas das empresas. Recente pesquisa realizada pelo
Instituto Datafolha, a pedido da Associação Paulista de Medicina, revela
atitudes inaceitáveis das operadoras e seguradoras – embora corriqueiras
– como restrições a exames e cirurgias ou glosas a procedimentos que são
feitos e não são pagos. Entre os médicos consultados, 92% já sofreram
interferências.
Os intermediários entre
os pacientes e os médicos, isto é, as empresas do setor, acumulam lucros
milionários e crescentes, fundem-se em grupos econômicos de força
assombrosa, dominam o cenário político da regulação governamental.
Transformam as brechas legais e a imaturidade da nossa sociedade em um
incomparável filão de negócios.
Mas nós, médicos e a
população brasileira, não aceitamos essa lógica perversa. Precisamos
trabalhar, porém exigimos fazê-lo com dignidade, pois nos preocupamos
com a vida e a saúde dos pacientes. Assim, neste Dia Mundial da Saúde, 7
de abril de 2011, damos nosso grito de indignação, pedimos apoio dos que
são vítimas do atual sistema e cobramos respostas e medidas enérgicas
das autoridades responsáveis.
Nosso movimento é
social, popular. Clamamos pelo fim das interferências na autonomia
profissional e pela valorização do trabalho médico. Defendemos, acima de
tudo, o respeito à vida humana, pois a saúde é hoje a maior preocupação
do brasileiro. É chegada a hora de sermos ouvidos.
Jorge Carlos Machado Curi
Presidente da Associação Paulista de Medicina