Por que seu médico lhe atende tão rápido?
Você acabou de renovar seu
convênio privado e receber a nova carteirinha. Vem num pacote bem montado,
com diversos extras e muitas recomendações de saúde. Pronto para fazer sua
primeira consulta, cheio de expectativas, você liga para um médico listado
no caderno do convênio e agenda um horário. Chega o dia e você vai ao
consultório e encontra uma sala de espera cheia de outros clientes, um calor
infernal e ouve gente começando a reclamar da demora. Senta, levanta, pega
uma revista, toma um copo d’água, entra um, sai outro e nada. Já impaciente,
não entende o que pode estar acontecendo, mas abre um sorriso quando seu
nome é chamado com mais de uma hora de atraso!
Ao entrar no consultório com
sua lista de dúvidas dentro do bolso, ouve duas perguntas do médico, senta
na maca, mede a pressão e sai de lá mudo com cinco guias após menos de 15
minutos de consulta. Ao dar-se conta, já está fora da sala sem saber muito o
que ocorreu. Alguém já passou por isso?
Caso se identifique, caro
leitor, antes de culpar seu médico, vamos entender o que acontece hoje na
maioria dos planos privados e porque este profissional é tão vítima quanto
você.
Numa pesquisa feita
recentemente, os pacientes acreditam que seu médico esteja recebendo cerca
de R$ 100,00 pela consulta, acham que ele deveria receber em torno de R$
140,00, mas na verdade ele recebe uma média de R$40,00 (bruto), de acordo
com dados da ANS de 2010. A
Assim, temos um paradigma: o
paciente acha que está pagando duas vezes e meia mais do que está sendo
exercido na realidade por seu tratamento. A disparidade entre percepção de
pagamento e serviço prestado é simplesmente alta demais. Mas, ao mesmo
tempo, você como paciente pode intrigar-se, já que seu plano custa
caríssimo.
Pois bem, atualmente apenas
10-15% do que você paga efetivamente vai para o profissional que coordena
todo o sistema e quem, em princípio, deveria zelar pela sua saúde. Todo o
resto cobre custos de possíveis internações, exames, medicamentos
hospitalares, custos administrativos, propaganda do plano e lucro de
terceiros.
O resultado disso tudo se
reflete na situação exposta acima. A conta é simples e rápida: o custo de um
consultório, apenas para mantê-lo aberto hoje é em torno de R$ 3.500,00,
considerando aluguel, secretária etc. Isso significa que um médico deve
fazer, apenas para pagar essas contas, um total de 140 consultas pagas (pois
dos R$ 40,00 se descontam INSS e imposto de renda).
Na prática, significam em
torno de 182 consultas, pois 30% destas são retornos não remunerados. Até
aqui o médico não ganhou nada, apenas pagou seus custos de trabalho. Vamos
dizer que ele vá ganhar R$ 7.000,00 por mês (sem entrar no mérito se é muito
ou pouco) – isso significa que terá que atender mais 280 consultas para
gerar esse valor, ou 364 considerando os retornos. Somando tudo isso, temos
546 consultas no mês para esse salário!
Como o tempo é fixo,
trabalhando 8 horas por dia, 22 dias por mês, ele tem 176 horas por mês para
dar conta de tudo, ou seja, 3.1 consultas/hora. Isso sem considerar férias
não remuneradas, feriados, falta de pacientes, entre outros extras que fazem
com que a marcação de consultas passe na maioria dos consultórios para 4 por
hora. Claro que ainda temos congressos e o tempo de estudo para atualização
profissional que não foram computados nos custos, mas saem diretamente do
bolso do profissional.
Já dá para entender que se
você foi um dos 546 pacientes vistos por seu médico, o nível de atenção
despendida por ele não tem como ser maior. É algo racional e direto,
proporcional ao grande volume de trabalho que o profissional tem de gerar
para receber um salário digno. É claro que gostaríamos, como médicos, de
sempre dar a maior atenção possível a todos os pacientes, mas atualmente
isso é simplesmente impossível.
A solução é óbvia, mas não é
facilmente mutável: o médico tem que receber mais pela consulta. Não adianta
fingirmos, fugir do assunto, fazermos discursos cheios de oratória: saúde
custa caro e um bom profissional também. Você, paciente, fica no meio disso
e sofre com um atendimento inferior ao que merece e paga.
Por isso, busque saber do seu
plano quanto ele paga ao seu médico e saberá qual a qualidade de atendimento
que terá. Não se impressione com helicópteros, propaganda de melhores
hospitais, nada disso. No final, quem mais importa é o profissional que lhe
atende e é isso o verdadeiro diferencial num serviço de saúde.
Dr. Juliano de Lara
Fernandes
Medico cardiologista,
coordenador do Departamento de Cardiologia da Sociedade de Medicina e
Cirurgia de Campinas
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