Estou de
volta pro meu aconchego
Esta composição de
Dominguinhos e Nando Cordel, imortalizada na voz sensual de Elba Ramalho,
descreve a minha despedida da Diretoria de Defesa Profissional da APM. De
fato, após 3 anos, eu quero um sorriso sincero, um abraço, para a paz
que eu gosto de ter. Quando o Lauro me convidou, disse a ele o que
eu pensava da APM como um clubinho de médicos que fazia um baile por ano e o
que pretendia da defesa profissional. Após 3 anos descobri que a APM é muito
mais que um clubinho e me orgulho do que fizemos na defesa profissional.
Digo fizemos, porque na verdade meu trabalho foi de equipe. De alguma
maneira toda a diretoria participou, principalmente o próprio Lauro. Rimos,
portanto, quando dizem que eu fui afastado de uma posição que estava
incomodando. Sei que vai ter colegas e administradores que vão dormir melhor
sem o incômodo dos meus artigos. Sei também que estes meus artigos nunca
defenderam uma posição política, um grupo, nem o meu próprio. Apenas e,
primordialmente, defenderam os médicos. E constato que, de fato, não há na
estrutura do movimento médico brasileiro quem tenha como objetivo a defesa
do médico. Sociedades de especialidades, fui presidente da minha, defendem o
aprimoramento científico. Conselhos defendem a Medicina, os pacientes, a
sociedade, mas em relação aos médicos ainda são mais punitivos que
defensores. E a APM, AMB, são sociedades cuja representatividade na classe é
baixa. Em nossa cidade os sócios são a minoria dos médicos. Como, então,
falar em nome deles? Restou-me então nestes três anos escrever. Analisar com
bom humor o cotidiano das nossas relações com o governo, com os auditores
que também são médicos, com os planos de saúde, com os pacientes.
Ainda estou procurando onde
colocar o carimbo. Mas tenho certeza que eu e meus colegas, agora, já
sabemos onde queremos colocar. O artigo do carimbo, as citações que
podemos escolher, passaram a ser uma nota alegre de pausa na nossa intensa
profissão diária. Pausa para rir, para refletir. A verdade é que o Jornal do
Médico passou a ser cada vez mais lido, esperado, comentado e, às vezes até
odiado.
Outra coisa que fizemos foi
divulgar o valor da consulta médica. A lei brasileira proíbe que anunciemos
produtos e serviços em qualquer moeda que não seja o Real. Porque então a
moeda do médico chama CH? Lembro que logo no início do mandato desta
diretoria um colega reclamou contra a divulgação dos valores em reais das
consultas neste Jornal. A verdade é que nestes três anos tivemos o prazer de
verificar que estes valores, que continuamos publicando, tiveram aumentos
expressivos. No ano passado, na campanha Congelamento Nunca Mais, houve
ganho real no valor das consultas junto à Unimed, Policlin e Vale Saúde. O
Grupo São José ficou de fora. É direito deles, mas sua posição mereceu
editorial do nosso Presidente. E pelo menos estes valores passaram a ser
públicos.
Estão nas salas de espera dos
consultórios, estão na Internet. Hoje um cidadão de São José dos Campos sabe
quanto seu médico recebe da sua operadora. Isto é clareza, transparência,
ética. Publicar significa tornar público e foi isto que fizemos. Sabemos que
operadoras e também médicos preferiam que nossas mazelas não fossem tão
expostas. Mas câncer é câncer e quanto mais cedo ele aparece mais efetivo
será seu tratamento.
Desculpem-me os colegas que
não se sentiram bem com meus artigos. Não me considerem inimigo, pois não o
sou. Afinal, após 37 anos de Medicina, o que eu gostaria seria
mergulhar na felicidade sem fim da música cantada por Elba Ramalho e
que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão,
honrado para sempre entre os homens, como prometia Hipócrates há
mais de 2.000 anos.
Dr. Sérgio dos Passos Ramos
Diretor de Defesa Profissional
APM Regional SJCampos
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