ArtigoDia do MédicoLauro Mascarenhas Pinto e Sérgio dos Passos Ramos

Como temos feito neste dia queremos levar aos leitores do valeparaibano algumas reflexões sobre nossa profissão e sobre a nobre arte que praticamos, a Medicina. Esta ciência nasceu junto com a própria humanidade. O homem ancestral sobreviveu graças à sua inteligência e habilidade e não à sua força. A natureza não lhe deu grandes sistemas de defesa e, na verdade, dentre todas as espécies, o homem era o mais vulnerável. Foi sua inteligência que o fez procurar as cavernas para morar, construir armas para se defender, descobrir o fogo para aquecê-lo. Foi também sua inteligência que o ensinou a curar as feridas que sua vulnerabilidade lhe causava. Em cada aglomerado humano havia sempre um que era habilidoso em tratar os ferimentos, preparar poções que curavam as doenças e, porque não, rezar aos deuses para obter ajuda quando o mal era desconhecido.

Até hoje o conhecimento médico não consegue explicar muitas das doenças que acometem o ser humano, não oferecendo alternativas de cura satisfatórias. A grande maioria da população, no entanto, considera ser obrigação da medicina oferecer solução para tudo e culpa os médicos quando não conseguem. É difícil entender que a causa das doenças não são responsabilidade dos médicos, mas sim eventos naturais. E que cabe aos médicos, usando de toda a sua ciência, habilidade e capacidade, tentarem mudar o curso de uma infecção, doença, ou ferimento, que sem eles, seguramente seria de pior evolução.

De todas as carreiras universitárias o curso de medicina é o mais longo: seis anos. É em forma integral e nos últimos anos entra nos finais de semana e noite adentro talvez como uma preparação acadêmica para o futuro. Mas o médico ainda não está preparado. Há a necessidade, hoje formal e obrigatória, da pós- graduação também chamada de residência médica. São mais três anos de intensa preparação, novamente não respeitando horários. Após tudo isto, temos o nosso jovem médico pronto para o mercado de trabalho. Imagine a sociedade que este excelente técnico, após nove anos de estudo, mereça fazer um concurso público federal, estadual ou municipal, e que vá receber tanto quanto as carreiras mais bem pagas dos poderes executivo, judiciário ou legislativo. Ledo engano, o salário médio de um médico concursado é apenas R$ 2.000,00. É por isto que há falta de médicos nas UBS, assunto tão explorado nas últimas eleições. Mas este "doutor" pode montar um consultório e, pelo menos, atender convênios. Novamente não. A maioria dos planos de saúde não credencia mais ninguém. E uma consulta em torno de R$ 30,00, que é o que os planos de saúde pagam, não é de maneira alguma o que este excelente profissional merece, alías, nem o que a vida do leitor merece, mas este é outro assunto. O que leva então a que homens e mulheres continuem sendo médicos?

Para nós, hospitais, clínicas, consultórios, ambulatórios são verdadeiros templos. Um templo é onde se trabalha no sagrado e não existe nada mais sagrado que a vida humana. É nestes templos que damos o melhor de nós, da nossa ciência e arte para tratar e prevenir as doenças. É neles que muitos de nós esquecem as próprias famílias, as diversões e a vida individual. Ai está a explicação para esta profissão tão antiga: o sagrado. Somos médicos, porque a vida humana é o bem mais precioso da humanidade. E cabe a nós preservá-la, restaurá-la, e dignificá-la.

 



Lauro Mascarenhas Pinto é presidente e Sérgio dos Passos Ramos é vice-presidente da Associação Paulista de Medicina Regional São José dos Campos

Artigo publicado no Jornal valeparaibano em 18 de outubro de 2008 http://www.valeparaibano.com.br/jornal/valeparaibano/vp00140/vp00140Integra.jsp?origem=TemplateInicial&Template=20&Chamada=1