Artigo
Uma
grande vitória e médicos de segunda classe
A
divulgação dos índices de mortalidade infantil e materna pela Unicef,
que mereceu até um editorial do valeparaibano, mostra que nosso
país está atingindo um índice de saúde pública desejável. Em 1990
tínhamos uma taxa de 56 mortes de crianças até cinco anos por mil
nascidas vivas. Em 2006, o Brasil deixou de ser um campeão de
mortalidade infantil para atingir a estatística de apenas 20 mortes por
cada mil nascidos vivos. Esta é uma marca impressionante. A taxa mundial
é de 76 mortes. Com esta melhora, o Brasil se coloca entre os países
onde menos crianças morrem até os cinco anos de idade. Ainda estamos
atrás de Chile, Uruguai e Argentina, mas seguramente estamos muito bem.
Tais taxas de diminuição de mortalidade refletem índices econômicos
e sociais diversos, entre eles a melhor distribuição de renda, oferta de
mais alimentos, infra-estrutura básica como água tratada e esgoto e, sem
dúvida, uma melhoria da assistência médica prestada por pediatras e
ginecologistas-obstetras.
Outro dado, agora preocupante, é que a taxa de mortalidade até um
ano de vida ainda é alta, sendo que 51% das mortes antes de um ano
ocorrem na primeira semana de vida e 66% antes de um mês. Outro dado
lamentável é o índice de mortalidade materna, 76 mortes maternas por mil
nascidos vivos. Segundo a Unicef, “o país ainda precisa reforçar a
assistência pré-natal e a assistência ao parto.”
E
é por isto que eu gostaria de relembrar um artigo publicado em 30 de
junho de 2006 neste mesmo espaço do valeparaibano. Para continuar
denunciando que estes médicos, ginecologistas, pediatras e também os
clínicos gerais, ainda são considerados como médicos de segunda classe
tanto pelo estado, quanto pelos planos de saúde locais. Persistem as
práticas de contratar médicos ginecologistas, pediatras e clínicos
gerais por valores menores que “outros” especialistas. E os planos de
saúde locais mantém os honorários do atendimento obstétrico e pediátrico
congelados há anos. É inconcebível que a maior operadora local de planos
de saúde pague apenas 260,00 reais por um parto normal ou 208,00 por uma
cesariana recusando-se terminantemente a pagar o tempo de assistência ao
trabalho de parto, não importa se o obstetra permaneça uma ou doze horas
ao lado da gestante. É inconcebível que as operadoras deixem de pagar as
consultas de pré-natal de alto risco, quando são necessárias consultas
semanais, considerando-as apenas retorno. Também para os pediatras, as
consultas de puericultura, vitais para o acompanhamento da vida quando
ela é ainda muito frágil, são pagas por valores menores que os pagos a
outras especialidades e limitadas, mesmo que a criança necessite de
avaliações semanais. Isto é uma calamidade, pois associam obstetras e
pediatras ao risco das doenças. Quanto mais grave a condição da gestante
ou da criança maior o prejuízo do médico, pois trabalhará mais e de
graça.
Índices como os divulgados pela Unicef nas manchetes nos enchem de
orgulho em relação à melhora global, mas não podemos deixar de ler os
índices de mortalidade infantil nos primeiros dias de vida e a
mortalidade materna que, lamentavelmente, ainda são altos.
A
melhoria destes índices deve ser esforço de toda a sociedade. Entre eles
médicos pediatras e obstetras que não podem ser tratados pelo estado e
pelos planos de saúde como médicos de segunda classe.
Dr.
Sérgio dos Passos Ramos
Presidente da Regional Vale do Paraíba da SOGESP e Diretor de Defesa
Profissional da APM São José dos Campos
Artigo
publicado no jornal valeparaibano de 25/01/2008