Faz tabela, Doutor?
Ou, você está preparado para o Brasil do século 21?
“Hoje em dia
conhecemos o preço de tudo e o valor de nada.”
Oscar Wilde
1854-1900
No artigo anterior falamos do vazio do paciente que perde seu
médico porque muda o plano de saúde ou, mais comum hoje em dia, quando seu
médico se descredencia do plano. Hoje falaremos destes pacientes que, apesar
de terem perdido seus médicos, ou até o plano de saúde, não querem perder um
médico particular.
Vamos a algumas definições importantes. Um estudo do Ipea
mostra que a maioria (40%) das pessoas quer um plano de saúde para ter mais
rapidez em realizar consultas e exames e apenas 16% para poder escolher um
médico de confiança. Guardem este conceito.
Por outro lado, índices oficiais de crescimento médio dos
rendimentos e da massa salarial mostram que cada vez mais as famílias estão
crescendo seu poder aquisitivo além de mais famílias terem acesso a
salários. Estas famílias estão comprando serviços de saúde individualmente
ou estão tendo acesso a eles em virtude de estarem empregadas e ter o plano
como salário indireto. Isto é particularmente verdadeiro quando se trata de
classes c e d. Portanto mais um conceito a ser guardado: a massa de clientes
está aumentando.
Mais uma variável a ser adicionada. O custo dos planos de
saúde está aumentando muito. Planos comprados através de associações e
clubes de consumidores tiveram aumento este ano em torno de 30%. Isto é mais
do que o suportável por uma família. Este dinheiro terá de ser retirado de
outra fonte e a percepção das famílias que o plano de saúde é importante se
contrasta com a necessidade de pagá-lo. A má qualidade do atendimento pelos
planos de saúde, excesso de ações regulatórias – leia-se aqui restritivas ou
ao menos protelatórias - bem como a insatisfação dos médicos com o que estão
recebendo, o que é nitidamente percebido pelo cliente, faz com que o
comprador dos planos de saúde se pergunte se isto vale a pena. Serviços cada
vez mais caros e que não funcionem bem tendem a ser substituídos...
Aí surge a solução “brasileira”. Se meu médico aceita
trabalhar por uma merreca para o plano de saúde, porque eu não posso
oferecer para ele uma merreca para ele me atender. Ganham todos: o cliente
que paga pouco e o médico que ganha por fora.
De fato, médicos ficaram tanto tempo ganhando merrecas dos
planos que já não têm mais idéia do valor dos seus serviços. A grande
maioria dos colegas cobra a tabela que dizem ser a da CBHPM de 42,00. Este
era o valor em 2003!!! Hoje, se apenas usarmos um corretor de valores, é de
quase 80,00! Portanto, se pretende cobrar tabela, que seja pelo menos este
valor.
Lembro que um colega, que fazia muita tabela, foi um dia ao
advogado dele e pediu um desconto de 50%. A resposta foi óbvia: Dr., se o
senhor não sabe o valor do seu trabalho, eu sei o do meu! Não faço desconto!
Ficam algumas perguntas a serem respondidas: Você está
preparado para atender esta enorme massa de pessoas que começou a demandar
serviços médicos particulares? Como? Apenas, antes do próximo artigo,
lembre-se que 40% das pessoas querem ser atendidas rapidamente, apenas 16%
querem escolher você! Difícil a verdade, não é? Até o mês que vem.
Dr. Sérgio dos Passos Ramos
Vice-presidente da APM São José dos Campos
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