Socorro,
meu médico sumiu!
“Você marcou na minha vida;
Viveu, morreu; Na minha história; Chego a ter medo do futuro; E da solidão.”
Gostava tanto de
você, Tim Maia
Você marcou na minha vida.
Lembro-me da primeira vez, tinha medo, vergonha, dúvidas. Me imaginava
morto, com uma doença grave, incurável. Sentei-me à sua frente e comecei a
falar como um doido, misturava sintomas, apreensões, problemas familiares e
sociais ao mesmo tempo. E você, com carinho, me perguntou: O que eu posso
ajudar?
A partir deste
momento, comecei a imaginá-lo como amigo. Suas perguntas eram feitas de
maneira delicada, mas com uma seqüência lógica e o emaranhado das minhas
queixas começou a se apresentar mais firme e racional.
Aí você
perguntou sobre meu passado, as doenças que tinha tido, minhas experiências
de vida, meu relacionamento com os familiares e até as doenças destes
familiares. Não me senti invadido, ao contrário, localizei em você uma
pessoa confiável, amável, um verdadeiro amigo.
Chegava a hora
do exame, temido pela dor e pela vergonha. Mas seus gestos profissionais me
deram coragem de passar por mais esta fase. Lembro-me que, com carinho, você
aqueceu suas mãos antes de colocá-las sobre o meu corpo. Quando ouvia meu
coração, parecia que ouvia a minha alma, tamanha a sua seriedade e
compenetração.
Perguntou-me
mais algumas coisas tipo, é aqui que dói? Muito? E agora, melhora ou piora?
Vesti-me e
sentei à sua frente esperando a sentença. Tinha medo que fosse ruim. Tentei
ler suas feições, mas elas eram de mármore, não deixavam transparecer nada.
E ao invés da sentença recebi de você orientação, força, conselhos. Não
acreditei. Não, não estava condenado, havia sim esperanças, meus temores se
dissiparam quando eu entendi que a doença era apenas um pequeno desvio na
minha vida e, logo, voltaria à ela plenamente.
A partir
daquele momento eu o escolhi como meu médico. Meu amigo, companheiro,
confidente, pessoa para quem falei meus segredos e minhas angústias durante
grande parte da minha vida.
Mas um dia,
como diz a música, viveu e morreu na minha história.
Não, não foi a
morte que nos separou. Não foi Deus que o tirou da minha vida. Foi o Plano
de Saúde que mudou. Insisti com sua secretária, mas ela me disse que o que
este novo plano paga não compra nem uma pizza de mussarela. É quanto vale
minha vida agora. Menos que uma pizza. Não sei o que fazer. Estou perdido.
Não entendo como o plano de saúde pode ser mais que Deus, pois escolhe meus
médicos, escolhe meus tratamentos, escolhe minha vida, sem me perguntar se
aceito.
Não entendo
porque planos de saúde não podem pagar qualquer médico e têm que ter listas
de “recomendados” que eu não conheço e em quem não confio. Se os médicos
recebem menos que uma pizza, será que são bons? Porque, então trabalham por
tão pouco?
Perdi meu
médico, meu amigo, meu irmão. Como termina a música: Chego a ter medo do
futuro; E da solidão.
Dr. Sérgio dos
Passos Ramos
Vice-presidente da APM São José dos Campos
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