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Artigo
Ressonância Nuclear
Magnética de Fígado
“Duas coisas são
infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao
universo, ainda não adquiri a certeza absoluta.”Albert Einstein, 1879
– 1955
Não
se enganem com o título. Não tenho assunto, resolvi escrever sobre o nada.
Coloquei um título bonito para chamar a atenção. Citei Einstein, chique,
intelectual. Einstein foi escolhido a “Pessoa do Século” pela Revista Time.
A mesma que escolheu Lula como a pessoa mais influente no mundo no ano
passado. Não disse, escrever sobre o nada, sobre Einstein e agora sobre o
Lula é certeza de sucesso. Einstein explicou o efeito termoelétrico e ganhou
o prêmio Nobel. Lula não ganhou, ainda, mas é sempre candidato. Um
metalúrgico brasileiro impressiona o mundo. Não estou fazendo profissão de
fé política, mas que nosso presidente é um sucesso, é. E o nada e a
ressonância magnética?
Na
verdade o que me preocupa muito é um vulcão lançando nuvens de cinzas que se
espalham pela Europa, suspendendo os voos. E um maluco que tentou explodir
um carro bomba em Times Square. Ou a economia grega que está em frangalhos.
Não consigo entender porque a bolsa brasileira cai por causa da Grécia. Ou
porque a Petrobrás é uma das maiores empresas do mundo mas o brasileiro paga
mais pela gasolina que nossos vizinhos do sul. Talvez seja porque está
vazando óleo no Golfo do México, ou porque o Brasil usa combustível
renovável. Dilma escolheu o Temer, Serra quer o Aécio, uma criança é
espancada no Rio de Janeiro, as fotos e filme dela estão na mídia.
Mas,
com todas estas preocupações mundiais na tela da tv, no monitor do
computador, ou no celular, volto ao mundo real. - Doutor, quero que o senhor
me peça uma ressonância do fígado. Como, senhora? Eu sou ginecologista,
fígado para mim é apenas para conjugar hormônios, a senhora já procurou um
gastro? Não, doutor, não preciso de um gastro, preciso de uma ressô do
fígado...Mas, tento dizer, quem sabe um clínico... Não doutor. Eu paguei
20,00 reais por esta consulta e o senhor tem de me pedir uma ressonância.
Como? A senhora pagou 20,00? Para quem, já chamo a secretária pelo
interfone, não sei se para confirmar que não houve este assédio moral
financeiro ou para dividir minha angústia com alguém. É evidente que a
relação médico paciente está indo para o ralo. Olho angustiado para minha
secretária, me ajuda... A paciente se adianta, eu pago quase 300,00 reais
por mês e ainda me descontam 20,00 por consulta, um absurdo, e o senhor quer
que eu vá num gastro? Quero a ressô... e pronto. Ah, pede também uma ultra
do fígado, não tem ultra do corpo inteiro? Senhora, quase perdendo a calma,
eu sou ginecologista, trato da mama, dos órgãos sexuais femininos,
menopausa... A senhora não quer fazer preventivo? Não, doutor, preventivo eu
faço no postinho, não vou pagar 20,00 para fazer preventivo e eu ainda
menstruo, não tenho nada de menô... Vai me dar a ressô e a ultra ou eu vou
ter de ligar para o 0800 do plano? Não, Sérgio, não faça isto. Pense.
Relaxe. Relação médico paciente é tudo. Calma!!! Senhora, falo muito
pausadamente, porque a senhora quer uma ressonância nuclear magnética do
fígado? Doutor, não entendo este negócio de nuclear – sabia que o Einstein
cabia no artigo – mas quero uma destas do fígado. Porque minha senhora? Meu
último contato humano antes do nada – sabia que o nada também entrava -. Por
que? Como por que? Porque eu quero, porque eu preciso, porque eu pago uma
fortuna por mês para o plano e nunca uso. Mas, qual a razão que a senhora
quer este exame? Sabe, doutor, eu fui num terapeuta e foi ele quem me pediu.
Disse que tenho uma doença rara no fígado, me deu estomazil para tomar e eu
até melhorei, mas ele disse que tenho uma doença muito grave no fígado. Mas
como ele fez este diagnóstico, senhora? Ora, doutor, ele é um especialista.
É muito famoso, atende mais de 100 pessoas por dia. Examina os olhos da
gente, vê a cor das íris, depois passa as mãos na aura e descobre as falhas,
finalmente pega um pêndulo e passa por todo o corpo. Quando o pêndulo dá uma
tremidinha é porque ali tem um problema. No meu caso, tremeu no fígado, aí
ele pediu a ressô... Ele é um amor, doutor, muito caridoso, atende pelo que
a gente pode pagar. A maioria dá uns 100 ou 150, mas vale. Ele é um
especialista... Chamo novamente a secretária: vê na tabela se eu posso pedir
RNM e ultra de fígado, falo e pisco. Não, doutor, o senhor só pode pedir
exame de ginecologia. Ufa, me livrei. Tudo pelo social. Doutor, então pede
aquele exame dos ossos para saber se eu estou perdendo cálcio. Ah, aproveita
e pede um check-up, aí. Duas assinaturas na TISS e me livro.
Peço
10 minutos para minha secretária para pensar no nada... Doutor, telefone,
é interurbano, (um estado do nordeste). Doutor o senhor faz parto? Sim,
faço. O senhor faz parto em casa? Faz parto na água? Sabe, como a Gisele?
Faço, faço, faço o que a senhora quiser! Doutor o senhor faz parto na casa,
na água, sabe, como a Gisele? Sim, já disse que sim. (Se falo não, vou ter
de explicar por que) Ah, então vou marcar uma consulta com o senhor, é pela
(nome do plano de saúde), o senhor aceita não? Eles pagam tudo, até o parto!
Desligo
o telefone.
Dr. Sérgio dos Passos
Ramos, vice-presidente da APM São José dos Campos
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