A Grande Represa
É possível mudar o sentido das águas de um rio, mas não por muito tempo.
Provérbio chinês
Num reino muito distante onde havia uma comunidade de delfos chamada Tabamb
resolveram construir uma grande represa para que a água chegasse às plantas,
aos animais e habitantes com igualdade, além, é claro, de fornecer um
excedente que daria para produzir riqueza para seus organizadores também
chamados de chefes.
A represa foi crescendo e, apesar de obra de boa engenharia, sólida como a
casa de pedra do porquinho, começou a apresentar uma pressão fora do normal
ameaçando suas estruturas. Os chefes não acharam explicação e foram
consultar os economistas. Economistas são aqueles que constroem teorias e
explicaram aos chefes que num regime de livre correr das águas, uma represa
tem de ter uma distribuição igualitária de efluentes para evitar a tensão.
Disseram até que existe uma lei econômica que nenhum preço resiste a um
congelamento por muito tempo e que isto leva à estagnação da economia
gerando forças de pressão irresistíveis. Citaram até o exemplo do Brasil,
país que era sub, passou a emergente e agora é um sério candidato a grande,
exatamente, porque deixou de “tabelar” os preços. Chefes não entendem de
economia e não levaram a sério o que chamaram de “oráculo do pessimista”.
Um belo dia na cabine de comando da represa soa o alarme: Vazamento!
Descem as escadas os chefes e se deparam com um pequeno furo onde pingava um
pouco de água. Ah! Isto não é nada. Coloca um “esparadrapo” aí. Deram a este
furo o nome de “Aneste” pois abrangia apenas uma pequena região da represa
chamada Rio de Janeiro. Mas a água começou a ter mais força e, então,
pediram para um chefe enfiar o dedo no tal buraco e ali ele ficou.
Mais algum tempo e outro alarme, outro furo. Este era um pouco maior. Era
numa região da represa chamada Mina(s). Saia muita água. Deram a este furo o
nome de “Obste”, sei lá porque. De qualquer maneira este furo era um pouco
maior. Era visível para mães, filhos, e afetava os pais. O furo “Aneste” era
numa uma região fechada da represa chamada de “sala”. Era pouco visível. Mas
este, este sim era grande. Chamaram um chefe e lá foi ele tentar tapar o
furo com o dedo. Insuficiente, tentou colocar o braço. Ainda insuficiente,
viraram o rapaz de costas e colocaram sua região glútea para tapar o buraco.
Ufa! Conseguimos, disseram os chefes. Mas, como toda história tem um mas,
surgiu a má notícia. Havia mais um furo, este de proporções enormes, pois
afetava as crianças do reino. Acontecia numa região não esperada da represa,
uma tal de DF, onde dizem que lá moram os chefes dos chefes. Chamaram a este
buraco “Ped” (veja notícia nesta edição).
Inconsolados os chefes se reuniram. Passaram um final de semana num hotel “chic”,
longe da represa, claro, e contrataram um guru para trazer soluções. O guru
tinha MBAs, era um gênio da economia e da “chefaria”, o melhor de todos, mas
não tinha negócio próprio, vivia de dar conselhos, ou seja, vivia do
dinheiro que os outros ganhavam, aliás, o melhor negócio do mundo,
inteligente este guru. Animadão, resolveu fazer um “cenário” com os chefes e
perguntou: Temos um problema. Alguém sabe a solução? Não? Então vamos chamar
os universitários! Hi,hi,hi. Universitários não têm diplomas, ó guru. E
mesmo que tivessem a maioria deles quer fazer “estética”. Ich, então vamos
chamar as placas! E apareceram as placas. Eram placas e mais placas que
diziam: Feliz Dia da Plebe, Feliz Aniversário, Churros Grátis, Macarronada
da Plebe, Seja Feliz Plebe, e finalmente “Plebe, ame-a ou deixe-a”.
Mas a plebe não queria placas... Vamos então chamar as cartas. Aí a coisa
foi para o brejo. Que carta vale mais? A rainha? O rei? O valete? Ou o sem
vergonha do Ás, que é um dissimulado total? Mas chamar as cartas é racismo,
não é igualitário. Todas as cartas são iguais! “Liberté, egalité, fraternité,
for ever!” Eta globalização!
Final da história: a Represa vai estourar!
E eu com isto? Eu? Porque eu? Eu sou médico. Chamem os chefes!
Sérgio dos
Passos Ramos é Vice-Presidente da APM São José dos Campos |