Medicina e
Economia, ciências antagônicas? Parte 2
“A medicina cria pessoas
doentes, a matemática, pessoas tristes e a teologia, pecadores” Martinho
Lutero, 1483-1586.
Com
esta frase terminei o artigo anterior: Porque engenharia gera riquezas e
medicina gera despesas. Agora vejamos a citação de Lutero acima. De fato se
analisarmos biologicamente, a doença é parte integrante da vida, regulada
por leis naturais independente dos homens. Há inúmeros trabalhos que mostram
que a redução da mortalidade por doenças independe dos esforços da medicina
e, muitas vezes, é a engenharia ou a economia que as resolve.1É
fato conhecido que a longevidade é diretamente proporcional ao
desenvolvimento econômico das nações. Não são os médicos que nos fazem viver
mais, mas os economistas. E mais, quando são os médicos, custa muito, mas
muito dinheiro mesmo. Vou dar um exemplo que causa espécie em cada um de nós
devido ao alto impacto psicológico. Câncer. Mais ainda, câncer de mama. Este
assunto foi discutido recentemente pelo governo dos EUA. Qual o valor da
mamografia de rotina na diminuição da mortalidade pelo câncer de mama. Para
a Cochrane, medicina baseada em evidências, a mamografia reduz em 20% a
mortalidade pelo câncer de mama2. Bom, excelente. Mas, aumenta em
30% os excessos de diagnósticos e tratamentos, biópsias, quadrantectomias e
mesmo mastectomias desnecessárias, riscos cirúrgicos, ressonâncias,
ultra-sons, custo imenso por “erro da mamografia” sem contar a morbilidade
dos procedimentos. Que dizem os americanos? Mamografia antes dos 40 anos,
nenhum resultado. Entre 40 e 49 anos, resultados insuficientes para
recomendar sua utilização, moderada evidência que o benefício final é
pequeno. Exame clínico anual, ressonância, auto exame, mamografia digital,
nenhuma evidência ou evidências insuficientes que recomendem sua utilização.
Para os americanos a única coisa que tem valor são as mamografias simples
entre 50 e 74 anos.3
Peguem
estes dados e entreguem para os economistas. Pronto! Está feita a confusão.
Podemos dizer que a conclusão será: Já que os próprios médicos consideram
que a mamografia não só não causa bem mas pode até causar dano aos
pacientes, (os economistas estão pensando nos gastos desnecessários das
intervenções cirúrgicas, exames, consultas de rotina, indenizações,
dispensas do trabalho, medicações), sugerimos a PROIBIÇÃO da mamografia, com
exceção das mulheres entre 50 a 74 anos. Querem uma maldade maior? Entreguem
estes dados para os médicos auditores!
Agora
vamos para o particular: Uma senhora de 91 anos, que me é muito cara, ao
realizar a mamografia de rotina que faz todos os anos, (verdadeiro
sacrilégio científico-médico-econômico se levarmos em conta os estudos já
citados) descobriu um câncer de mama, foi operada, está ótima... Os exames
de mamografia pós-operatória solicitados pelos oncologistas têm sido
sistematicamente negados pelos “médicos” auditores do plano de saúde, apesar
de laudos justificatórios emitidos por especialistas do Hospital do Câncer.
Talvez os auditores autorizem ressonâncias...
Mas
a economia não se preocupa com o particular, mas sim com o coletivo. Não sei
o que pensar, como médico, como filho. Mas de uma coisa tenho certeza
absoluta: se os planos de saúde, os auditores e os economistas pensam que
não devemos gastar dinheiro, deveriam eles explicar isto para os pacientes,
na assinatura do plano. Crime é deixar para nós, médicos clínicos, pagos
pelos mesmos valores dos servidores do sexo conforme a primeira parte deste
artigo, tenhamos não só que explicar mas nos responsabilizarmos por esta
decisão. É assim que é feito em países civilizados. Nos EUA, a discussão
sobre gastos com a saúde é feita no Congresso, com a participação dos
cidadãos, porque o custo da saúde é parte integrante e sensível dos
impostos! Lá quando se compra um plano de saúde se é avisado das limitações.
Aqui prometem saúde perfeita e eterna. Isto não existe, mas, este é o
assunto da próxima edição: O custo da saúde ou da longevidade? Até o mês que
vem, se a censura deixar.
Dr. Sérgio dos Passos Ramos,
vice-presidente da APM São José dos Campos.
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