Medicina e Economia,
ciências antagônicas? Primeira parte.
“Acreditar na medicina
seria a suprema loucura se não acreditar nela não fosse uma maior ainda,
pois desse acumular de erros, com o tempo, resultaram algumas verdades .”Marcel
Proust, 1871-1922
Volto
ao Jornal do Médico e desta vez o artigo não deve causar risadas, nem
rizadas1, mas uma reflexão sobre nossa profissão e o antagonismo
entre ela e a economia, talvez uma explicação sobre o porquê de nossos
honorários estarem congelados, por ganharmos menos que cabeleireiros,
instaladores de tv a cabo e até prostitutas. Por falar nelas, me intriga
saber o que elas, e eles, prometem por entre trinta e cinquenta reais, nos
anúncios de “acompanhantes”, por coincidência a mesma coisa que recebemos do
Policlin, Unimed, Vale Saúde, Clínica São José e outros, por uma consulta
médica. Oral? Só massagem? Ou apenas a observação dos corpos, prometidos
como “experiente, carinhosa, completa e corpo totalmente depilado” (Jornal
Valeparaibano, 28 de janeiro de 2010)
Quanto
custa um “serviço completo”? Me disseram que é mais que o valor que
recebemos por um parto, (240,00). Já um “totalmente liberado” pode chegar de
hum a cinco mil reais, valor inexistente na tabela médica para nenhum
procedimento. Sem recibo, sem INSS, sem prazos, pagamento a vista, em
dinheiro. Existem algumas que aceitam “cartão de crédito ou débito”.
Interessante quando chega a fatura e seu cônjuge pergunta: - Meu bem o que é
“diversões eletrônicas a jato”. Mas o melhor deste serviço, é que não tem
“glosa”. Aliás, aqui, o resultado é imediato, ou “goza ou glosa”, apenas a
colocação de uma letra. Mas, não se engane, se introduzir o L e não gozar,
paga do mesmo jeito.
Triste,
mais triste ainda se não fosse verdade.
Mas
porque?
Sou
das primeiras turmas da “melhor” faculdade de medicina do Brasil, sabe,
aquela que a partir deste ano foi escolhida para indicar candidatos ao
prêmio Nobel de Medicina, coisas que só instituições de ensino de renome
internacional como Cambridge, Oxford, Massachusetts Institute of Technology
(MIT) e Harvard, (nenhuma outra do Brasil) fazem.
A
proposta da Unicamp sempre foi de vanguarda. Na Medicina, tive um ano de
cálculo, três de sociologia, antropologia, anos de psicologia médica,
estatística, história da medicina, deontologia médica, além de noções de
direito onde meu ilustre professor foi o Reitor da Puccamp.
Mas,
notem, não tive aulas de economia.
Me
prepararam para ser médico, sociólogo, matemático, especialista em
humanidades e ciências médicas, mas não me disseram que isto tem um custo, e
menos ainda, que esta é uma profissão, da qual eu vivo e tento sustentar
minha família.
Em
1968, ano quente, fui selecionado para realizar um curso de extensão
universitária na Escola de Sociologia e Política (USP) onde fui iniciado em
sociologia, política e economia. Fui aluno de Dalmo Dallari e Paul Singer
(em 1980 seriam, entre outros, os fundadores do PT). Singer me introduziu
não só na economia dos números, mas na economia que deve ser utilizada para
fazer com que a humanidade tenha acesso a riquezas, entre elas a Saúde.
Em
1969, fui para Harvard onde consolidei as informações sobre política e
economia. Entre meus professores, à época, os melhores pensadores dos EUA.
Numa turma anterior à minha, quem recebeu os estudantes brasileiros, na Casa
Branca, foi J. F. Kennedy. Em 1969 eu só tive acesso ao seu impressionante
túmulo em Arlington onde o fogo eterno lembra um homem que foi ímpar na
história, e que, talvez por isto, foi morto.
Designado
para o CTA, em 1974, aqui tive contato com uma das maiores instituições de
ensino, pesquisa e desenvolvimento do mundo.
Pois
bem, no ITA, alunos de engenharia têm economia.
Sabem
porque? Porque engenharia gera riquezas e medicina gera despesas.
Mas
este é o assunto para o próximo mês.
Dr. Sérgio dos Passos
Ramos, vice-presidente da APM São José dos Campos.
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