Absurdo e lamentável

Oswaldo Couto Júnior

Há tempos já estava ensaiando escrever sobre MÉDICOS que fazem procedimentos para os quais NÃO FORAM tecnicamente treinados, tava me segurando...mas...

A gota d’água foi a matéria publicada no dia 27/09/2008, na FOLHA de S.PAULO (caderno COTIDIANO 1), sobre os 289 processos ético-profissionais movidos pelo CREMESP para PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS (que vão desde lipoaspiração, redução ou colocação de próteses de mama, até aplicação de substâncias na pele...etc). Ocorre que APENAS 6 eram na realidade CIRURGIÕES PLÁSTICOS, vou repetir dos 289, APENAS 6, ou seja 2% !

Estes outros “coleguinhas” vão desde cirurgiões gerais, ortopedistas, ginecologistas... passando por pediatras, anestesistas, cardiologistas, psiquiatras e neurologistas, considerando que 45% DESTES não tinham título nem da especialidade declarada, dá até pra duvidar que sejam realmente especialistas em alguma coisa !

A legislação brasileira sobre a prática médica tem mais de 50 anos e permite a quem curse os 6 anos de medicina, exercer o que bem entender, porém todos nós sabemos que não é bem assim. Sem um mínimo de treinamento - a residência médica preferencialmente em instituição reconhecida pelo MEC -, esta prática é extremamente perigosa para o paciente, pois você não saberá o que fazer diante de certas situações, já que não foi orientado.

O saudoso Dr. Edgard Rafaelli Júnior, neurologista fundador da Sociedade Brasileira de Cefaléia, sempre dizia : “Não trate o que você não estuda”. No popular: “cada macaco no seu galho”. Cansei de ver no meu consultório absurdos terapêuticos, que além de não resolverem, prolongam o sofrimento do paciente.

Vocês que estão lendo isto, certamente têm vários exemplos a citar. Acho que algo deve ser feito e de uma forma EXEMPLAR, senão não sei onde vamos parar. Os leigos (coitados), não têm culpa. Feliz daquele que tem um amigo ou parente médico para orientar o encaminhamento. Podemos começar orientando nossos pacientes, para que procurem especialistas REAIS, no mínimo com residência ou estágio, para tratar as doenças que não são a nossa PRAIA.

Quem está pensando que estes absurdos são por ganância, ACERTOU. São coleguinhas que querem ganhar um “EXTRA”, não interessa de que forma.

Tomara que o CREMESP, não deixe barato, não só os casos envolvendo a cirurgia plástica, mas todo e qualquer procedimento cometido por mãos erradas.

Ainda acredito e amo a medicina, faria tudo de novo.

Abraço a todos,

Oswaldo Couto Júnior

Cremesp 35822 – médico neurologista