Notícias

Home » Notícias » Destaques » Artigo: A rotina de um cirurgião em meio à pandemia

09/03/2021

Artigo: A rotina de um cirurgião em meio à pandemia

Por Walter Rodrigo Miyamoto

O médico Walter Rodrigo Miyamoto (dir.) aguarda, paramentado, a chegada de um paciente com Covid-19

Durante este ano de pandemia, fomos submetidos a intensas mudanças em nosso cotidiano. Em março de 2020, logo que tivemos conhecimento da proximidade da Covid-19, suspendemos os atendimentos no consultório como medida de segurança. Todas as cirurgias eletivas foram canceladas
até segunda ordem, com o objetivo de preservar a saúde dos não contaminados e disponibilizar leitos de prontidão para aqueles que fossem
vítimas da maior pandemia dos últimos anos que, vinda da Ásia, já alcançara Europa e América do Norte em grande velocidade.

Ao toque de recolher, um setor não parou. O das urgências.

Não sabíamos como nos preparar para o inimigo desconhecido. Foram instituídos diferentes protocolos de segurança para as equipes de cirurgia
de urgência em cada hospital. Dúvidas quanto ao nível de segurança necessário na utilização de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Indefinição quanto à eficácia dos métodos de triagem dos pacientes no pré-operatório. Mudanças nas indicações cirúrgicas. Grandes postulados colocados em xeque: Maior benefício cirurgia
convencional aberta x videolaparoscópica.

Inúmeras reuniões on-line foram realizadas com o mundo todo, incluindo nossos colegas dos grandes epicentros, como Japão, Itália, Portugal e EUA,
na tentativa de antecipar o que enfrentaríamos adiante, e melhorar nossas técnicas através da troca de experiências. Nesse ponto, reconheço que tivemos um avanço, pois nunca a informação foi tão rapidamente difundida, tampouco o conhecimento fora compartilhado de tal maneira democrática. Mas nada parecia ser o suficiente.

O que sabíamos? Que o paciente operado, contaminado com o Covid-19, apresentava aumento de taxas até 50 % em Morbidade e 20% em Mortalidade.

Ao longo desse período, chegamos a utilizar 9 camadas protetoras de EPIs em cada cirurgia: 2 aventais, 2 pares de luvas, 2 máscaras, óculos protetor, gorro e face shield.

Atualmente, ainda temos protocolo de paramentação e desparamentação, em que uma equipe treinada orienta cada passo da sequência de retirada
dos equipamentos após a cirurgia.

Particularmente, meu medo nunca foi de me contaminar, mas sim de contaminar minha família.

Ao deixar minha esposa e filhos em casa, sabia que poderia ser o dia em que me contaminaria e que eventualmente poderia estar intubado 3 dias
depois. Mas, ao voltar, também sabia que não poderia falhar, expondo-os ao risco de contaminação.

Por isto, durante 1 ano, todas as vezes que retornei dos hospitais, segui o ritual de entrada por porta diferente, retirada de minhas roupas e banho de
descontaminação em área separada, mesmo que o horário fosse 3:00 a.m..

Todos perdemos pessoas queridas. Parentes, colegas, amigos ou pacientes. E por isto, em respeito a essas vidas, prezo que todos ainda mantenham cuidados e boa saúde, pois esta fase vai passar.

Walter Rodrigo Miyamoto é coloproctologista, cirurgião geral e diretor de Esportes da APM SJCampos. Atua nas equipes de Cirurgia de Urgência de três Serviços e foi submetido a 11 testes de Covid-19 até o momento. Recebeu duas doses da vacina, e espera que ela alcance toda a população o mais breve possível.

Confira todas